A beleza do inesperado
As crianças são curiosas por natureza. Desde bem pequenas são grandes pesquisadoras do mundo. Exploram para conhecê-lo. São como pequenos cientistas com enorme interesse por tudo o que as cerca. Deixar que façam as suas próprias pesquisas, brincando, fará com que o seu repertório de experiências fique cada vez mais rico.
Brincar em ambientes abertos é uma oportunidade para ampliar essas interações. É onde está a maior diversidade de situações para elas explorarem. E, para incentivar e ampliar um olhar investigativo, as crianças, têm acesso a espaços privilegiados e a uma diversidade e qualidade de materiais, como por exemplo, lupas. As lupas aumentam o tamanho das coisas e também ajudam a focar. Com elas, as crianças conseguem concentrar-se – e por consequência, acalmar – e encontrar dezenas de seres pequenos, plantas, folhas em diversos estágios de decomposição, minhocas, casulos de insetos, bolotas e outros animais.
O grupo tem vivido ao longo do percurso pelo jardim-de-infância um grande interesse pela diversidade da fauna (diversidade de animais) existente no nosso parque e fora dele, com vários projetos de investigação. As crianças fazem descobertas incríveis e são excelentes investigadores, onde fazem brincadeiras simples e não direcionadas com a natureza, enriquecendo a perceção e alimentando a imaginação
O brincar é, talvez, o comportamento que melhor ajuda a estruturar todas as competências essenciais para o futuro.” (Professor Carlos Neto)
No jardim-de-infância é importante que as atividades permitam a imaginação e criatividade e que não a limitem. Os conteúdos prontos e pré-estabelecidos não permitem que a criança questione, pense, observe, crie e se expresse. “as crianças confiam de uma maneira espantosa na sua imaginação” (Ken Robinson) e é importante que o contexto educativo incentive essa confiança, proporcionando-lhe um ambiente favorável para a descoberta e a criatividade
A participação da criança no processo de aprendizagem é uma componente inerente do processo educativo.
“A nossa tarefa, em termos de criatividade, é ajudar as crianças a escalar as suas próprias montanhas, o mais alto possível.” Loris Malaguzzi
Educar na curiosidade é fundamental. As crianças pequenas possuem um instinto de curiosidade surpreendente diante das coisas pequenas e do quotidiano. Esse instinto de curiosidade é que a leva a descobrir o mundo, que a motiva para aprender e fazer descobertas. ( L ́Ecuyer).
Quantas vezes vemos uma criança a observar uma flor na qual só ela reparou? Ou parar a observar uma borboleta, o seu voo livre e as cores das suas asas? Como profissionais da educação, não permitamos que as crianças percam este olhar investigativo e este apreciar da beleza. Tanto no jardim-de-infância como nos ciclos seguintes. A criança precisa de estar encantada para ter motivação para aprender e investigar.
Ao terminar este ciclo de jardim infância, observamos crianças questionadoras, discutem as várias propostas. Mas o melhor de tudo é que elas são crianças dispostas a aprender e a trabalhar em grupo. Existiu um incentivo durante a frequência no jardim de infância à curiosidade das crianças, colocando perguntas que as levam a pensar, a interrogar-se e a querer saber mais (Repararam que…? Como podemos descobrir? Haverá outra forma de fazer? De que precisamos? O que irá acontecer se…? Por que razão achas que isto acontece? etc.). É deste modo, que as nossas crianças são muito curiosas, questionadoras e disponíveis para experimentar e aprender mais. Competências fundamentais para enfrentar os próximos ciclos com a mesma alegria e motivação como nos anos em que aqui estiveram.
Ser feliz… é o mais rigoroso e exigente critério de avaliação de qualidade.
As crianças deste grupo mostraram-se diariamente disponíveis e motivados a realizar projetos de artes criativos e personalizados. Inserir a arte na rotina infantil é potencializar a liberdade criativa da criança, é possibilitar que elas resolvam problemas a divertirem-se e estimular que elas inventem, testem e experimentem diferentes possibilidades.
Em ambientes pensados com intencionalidade, cada “criança encontra um contexto, um projeto, que dá sentido ao desenvolvimento das suas potencialidades.
O ano letivo terminou e tanto se fez, construiu ou se partilhou. Tantas memórias do que se viveu.
Agora é importante refletir na transição para o próximo ciclo: Primeiro ciclo do ensino básico. As transições são constantes na vida do ser humano. Umas exigem mais adaptabilidade do que outras. Mas este é considerado como um processo muito importante na vida das crianças. E por isso é necessário um processo de partilha coordenado entre a educação pré-escolar e o 1ªCEB.
Importa dar uma especial atenção à criança nesses momentos, transmitindo-lhe uma visão positiva dessa passagem, como uma oportunidade de crescer, de realizar“Chegou o dia” “O novas aprendizagens, de conhecer outras pessoas e contextos, de iniciar um novo ciclo, de forma a sentir confiança nas suas capacidades para dar resposta aos desafios que se lhe colocam. (Orientações curriculares, 2016). E dessa forma continuarem encantadas por aprender e saber mais.
“Casa é onde está o coração”
“Casa é onde está o coração” foi o tema da nossa festa de finalistas e da festa final de ano. Um título de um livro muito apreciado neste grupo, de Jonn Lambert, que traduz o sentido que foi esta casa para todos nós, crianças, equipa da sala e família.
O conceito de casa “abrigo” esteve presente nos três anos de jardim de infância: na casinha dos passarinhos, na caverna do urso, na construção da tenda, na casa dos pequenos cientistas, na casa dos bichinhos da ceda, nos diferentes abrigos de animais inventados pelo grupo, entre outros.
Na festa de final de ano este grupo inventou uma grande história. Uma História inspirada em vários projetos, livros e aventuras vividas ao longo do percurso nesta “Casa”. Foi um flashback de memórias e aprendizagens.
O fim de um ciclo é o início de um novo caminho
Aprendemos tanto sobre o ciclo de vida dos animais. As nossas borboletas ensinaram-nos que o fim de um ciclo pode ser o início de um novo caminho. “Bater asas e voar”
A mim, vocês ensinaram me
a olhar para as coisas. Apontar todas as coisas que há nas flores. Mostraram me como as pedras são engraçadas, quando a gente as tem na mão, e a olhar devagar para elas. A observar cada detalhe de cada ser vivo do nosso jardim. A sentir o mundo com as mãos. A entender que a beleza das coisas está no simples observar, sentir e contemplar. Que o encanto de ser educadora está na simplicidade e no amor. Que a nossa casa é onde está o coração. E vocês foram casa durante estes anos. Encantaram-me com o vosso voo livre, a vossa energia e o vosso descobrir o mundo com os sentidos. E é tão bom quando assim é para uma nova etapa com novos desafios, novas conquistas.
“Voa então, deixa saudades, que o teu sonho é liberdade”.
Bibliografia:
Desmurget, Michel (2020). A Fábrica de Cretinos Digitais: Os perigos dos ecrãs para os nossos filhos; Webgrafia:https://nordvpn.com/pt-br/blog/perigos-da-internet/https://www.citador.pt/textos/o-aqui-e-o-agora-jose-to-lentino-mendonca
SARA MESQUITA
Educadora de Infância




