Na nossa atualidade, cada vez mais, vemos as crianças privadas do contacto com a natureza e, consequentemente, perdendo as vantagens daquilo que ela lhes pode oferecer. O contacto com a natureza deveria ser privilegiado nas brincadeiras das crianças em todos os seus contextos de vivência, contudo, isso nem sempre acontece.
A interação das crianças com a natureza é fundamental para o seu desenvolvimento integral, potenciando a forma como adquire as suas mais variadas competências. Ao brincar na natureza, a criança visita o palco ideal para desenvolver todos os seus sentidos, a sua criatividade, a imaginação, a sua força, o equilíbrio bem como a coordenação. Paralelamente, este contacto, fortalece o sistema imunitário e, de forma lúdica, consegue criar boas memórias que a acompanharão no seu futuro.
A natureza é um espaço onde a criança cria, recria, inventa, imagina, descobre, sente, sonha, pensa e interage sobre o ambiente de modo a desenvolver a sua aprendizagem. Por isto, posso afirmar com propriedade, que explorar a natureza, oferece infinitas possibilidades de brincadeiras criativas, despertando a curiosidade e incentivando a aprendizagem da criança.
Nas interações que estabelece com a natureza e tudo o que esta envolve, a criança tem a possibilidade de, desde cedo, avaliar, correr riscos, cair, levantar e persistir perante os obstáculos que enfrenta. Nestas circunstâncias e através destes desafios, favorece em larga escala as suas múltiplas aprendizagens, e em destaque promove o desenvolvimento da sua autonomia.
Com elementos simples que vai recolhendo deste contacto com o meio natural, as crianças criam um mundo com aquilo que têm à mão: um simples pau, uma pequena pedra, uma folha seca, o vento, a água, a terra, a areia, … Estes elementos que numa pequena brincadeira estão à sua disposição, tornam-se ferramentas riquíssimas nas suas grandes descobertas. Para além disto, os elementos naturais proporcionam uma variedade de texturas, temperaturas e resistências que estimulam os sentidos das crianças e consequentemente, todas as suas habilidades.
“Criar conexão com a Natureza numa dimensão não formal é expandir a aprendizagem expressiva do nosso corpo de forma direta, intencional e sustentável, construindo conhecimentos através da interação indireta e também de uma empatia socioemocional entre pares que permanece para o resto da vida”. (Carlos Neto)
Na sala de creche grandes, faz parte do projeto pedagógico as idas ao espaço exterior, nomeadamente, ao nosso campo. Vários foram os momentos que o grupo vivenciou e experienciou ao longo deste ano letivo.
A primeira ida ao campo foi para a tradicional desfolhada, onde foi possível estabelecer uma conexão com a cultura e tradições aliado à exploração orgânica deste espaço. No decorrer do ano letivo, foram vários os momentos/brincadeiras lá vividos: apanhar pampilos, brincar na terra e lama, ver o que foi cultivado na terra, visitar as estufas e ajudar a plantar legumes na estufa, …
A atividade que mais cativou o grupo, onde ficou destacado o seu interesse e envolvimento foi brincar na lama. Brincar na lama pode ser uma atividade extremamente enriquecedora para as crianças, proporcionando uma variedade de benefícios para o seu desenvolvimento físico, emocional e social. A lama oferece uma experiência sensorial bastante rica uma vez que a sensação da lama fria e viscosa nas mãos e o cheiro ajuda a desenvolver o tato e a perceção sensorial.
Neste tipo de atividades, as crianças sujam-se, ficam cheias de terra espalhada pela roupa, na cara, nas mãos. Segue-se o momento de tomar banho e lavar tudo. Toda esta envolvência torna estes momentos memoráveis para as crianças, confirmando a premissa de que o contacto com o meio ambiente é muito valioso e importante para o seu desenvolvimento a nível cognitivo, físico, social e emocional, sem esquecer a vertente da sua saúde, que nestas circunstâncias fica sempre fortalecida.
Sempre que é pedido ao grupo para calçar as galochas e ir ao campo, é notório um entusiasmo geral. Desta forma, sempre que possível iremos privilegiar atividades no campo ou em contacto com a natureza.
De reforçar que “as crianças têm uma afinidade natural com a natureza. A natureza permite que os nossos filhos se encontrem com a realidade no seu estado puro… faz com que as crianças sejam capazes de manter a atenção durante horas… é a primeira escola onde os nossos filhos aprendem as leis naturais do nosso mundo. A natureza é uma das primeiras janelas de curiosidade da criança…” Catherine L´Ecuyer
Bibliografia:
L´Ecuyer, Catherine (2017), Educar na curiosidade. Planeta
Neto, Carlos (2020), Libertem as crianças: a urgência de brincar e ser ativo. contraponto
PAULA COUTO
Educadora de Infância




