Autoestima – um hábito emocional?

A autoestima, como necessidade fulcral da nossa vida, terá de ser um hábito emocional em adequação permanente. O refinamento da nossa consciência desencadeará um autocuidado persistente.

A construção de hábitos emocionais é um processo que envolve o autoconhecimento, a regulação das emoções e o desenvolvimento da inteligência emocional.

AUTOESTIMA E A ACEITAÇÃO (IN)CONDICIONAL DE SI MESMO

A autoaceitação incondicional é uma atitude que cada um necessita de desenvolver, assumindo de forma progressiva a integração total dos aspetos positivos e negativos da personalidade.

A autoestima como indicador de saúde mental

A autoestima corresponde à perceção avaliativa que a pessoa faz de si mesma, em diferentes situações e eventos da vida, a partir dos valores que considera positivos ou negativos. Esse apreço, que sentimos por nós próprios, constitui um importante indicador da saúde mental, mostrando que a forma como nos avaliamos e nos sentimos, influencia o nosso bem-estar.

A autoestima desenvolve-se, desde a infância, a partir das relações que estabelecemos com as pessoas próximas e significativas. As relações podem transmitir-nos mensagens positivas ou negativas sobre nós mesmos, que vão moldando a nossa perceção e a nossa aceitação pessoal. As experiências traumáticas, os problemas de saúde mental, as comparações sociais e as expectativas irreais também podem afetar a nossa autoestima de forma negativa.

É, por conseguinte, muito importante a nossa autoestima, designadamente, porque o seu desenvolvimento influencia as escolhas que vamos fazendo ao longo da vida.

A importância do desenvolvimento da autoestima

Como referimos anteriormente, ter uma boa autoestima é fundamental para a saúde mental pois está associada a uma maior confiança, motivação, satisfação, resiliência e qualidade de vida. Por outro lado, ter uma baixa autoestima pode gerar sentimentos de inferioridade, inadequação, culpa, vergonha, ansiedade e depressão.

Portanto, é importante cuidar continuamente da nossa autoestima e procurar formas de melhorá-la quando necessário.

Uma autoestima mais real e positiva é o alicerce para que se tenha segurança e confiança nas nossas habilidades e competências, para que se procurem momentos de felicidade e se reconheçam as nossas qualidades/defeitos.

Conseguiremos narrar os êxitos e os fracassos com a mesma expressividade e ponderação? 

Parece ser difícil, pois a autoimagem, que se modifica dinamicamente em função das experiências e dos contextos, apresentará dificuldades e harmonias diferentes. Há desajustes na dinâmica da autoestima que resultam das lentes ou filtros que utilizamos para explicitar a forma como experienciamos e expressamos os êxitos e os fracassos.

Nos casos concretos em que experienciamos sentimentos de inferioridade, o discurso tenderá a centrar-se nos fracassos e omitirá, por negação ou por inabilidade, a manifestação das experiências positivas. Quanto aos sentimentos de superioridade, os fracassos serão encobertos, havendo uma expressividade, às vezes exibicionista, sobre os êxitos alcançados. Escondem-se por detrás dos êxitos para que ninguém repare nos fracassos.

A autoestima: a ponte entre o eu ideal e a autoimagem

A autoestima será a ponte entre o eu ideal e a autoimagem percecionada nas diferentes circunstâncias.

Cada pessoa, não se considerando superior nem inferior ao demais, sendo flexível, aberta e compreensiva, terá a capacidade de superar os fracassos. Será cada vez mais viável estabelecer relações saudáveis, sendo crítica, construtiva e coerente consigo e com os outros. A autoestima poderá, desse modo, ser a ponte entre o Eu ideal e a autoimagem.

O Eu ideal é a imagem idealizada que desenvolvemos ao longo do tempo, a partir do que aprendemos e vivenciamos e reflete as nossas aspirações, valores, metas e potencialidades. Por sua vez, a autoimagem é o Eu que pensamos ser, é a forma como nos vemos, não só a nível físico mas, também, a nível emocional, social e cognitivo, nos diversos papéis que exercemos. É uma representação mental que temos de nós mesmos e que inclui a nossa aparência física, as nossas características psicológicas, as nossas habilidades e os nossos defeitos, podendo ser, mais ou menos realista, positiva ou negativa. Quando há congruência entre o Eu ideal e a autoimagem, haverá uma boa correspondência entre o Eu que somos e o Eu que queremos ser, gerando uma maior satisfação, confiança e autoestima. Para melhorar a congruência entre o eu ideal e a autoimagem, é preciso adotar algumas atitudes que ajudem a promover e a reconhecer o próprio valor.

Você é a pessoa que mais sabe de si?

GESTÃO EMOCIONAL E AUTOIMAGEM

Gestão emocional e autoimagem são dois conceitos que estão relacionados com o bem-estar psicológico e com a qualidade de vida.

A gestão emocional, como a capacidade de compreender e avaliar as próprias emoções, constitui uma forma de lidar com o que sentimos em determinadas situações, sem evitar, negar ou lutar contra as emoções, mas aceitando-as e dando-lhes um significado.

Por seu lado, a autoimagem, como representação mental que construímos de nós mesmos, inclui a nossa aparência física e nosso modo de ser e de nos relacionarmos. É uma forma de nos vermos por dentro e por fora, que pode ser mais ou menos realista, positiva ou negativa.

O autocuidado na gestão da atenção a si mesmo

Tanto a gestão emocional como a autoimagem influenciam a forma como nos tratamos, a nossa autoestima e o nosso autoconceito, afetando, também, o nosso desempenho académico, profissional e social. A gestão da atenção a si mesmo é uma habilidade que envolve o cuidado com a saúde física, mental e emocional e pode ser entendida como um processo de auto-observação e autoprodução, que depende da maneira como a pessoa se relaciona com seu corpo, com o seu contexto e com a sua situação.

É essencial desenvolver o autocuidado na gestão da atenção em relação ao que somos – autoimagem – e ao que queremos vir a ser – idealização do ego em projeto.

Protagonismo nas nossas decisões

O protagonismo envolve a capacidade de tomar iniciativas e atitudes que impactem os eventos à nossa volta, obtendo o controlo da nossa vida. Implica ser a personagem principal da nossa própria história, alguém que sabe comunicar e tomar decisões. É uma forma de incluir a participação ativa na definição das ações, dando espaço para a autonomia e para a responsabilidade.

Esta capacidade de transformar a própria vida, ao invés de depender da sorte ou dos outros, será uma forma de apreciar a própria companhia, ter o puder de escolha e resgatar o sentido da existência.

Este protagonismo é fundamental para tomar decisões estratégicas sem estar prisioneiro da necessidade de ser uma pessoa querida por todos. Uma pessoa autorregulada e ativa será capaz de planear, monitorizar e regular os seus pensamentos, a sua motivação, os seus sentimentos e as suas ações.

Expresse o seu otimismo real ou desânimo verdadeiro.

Responsabilidade pelas escolhas assumidas
O processo de regulação emocional face às escolhas assumidas pressupõe três etapas: identificação da emoção, seleção de uma estratégia e implementação comprometida da estratégia escolhida.

O compromisso assumido face às escolhas efetuadas exige, sobretudo, a confrontação com as adversidades e com os sofrimentos resultantes das diferenças entre o querer e o conseguir. Assumir os erros como oportunidades para a criação de alternativas mais eficazes, não desistindo da escolha e persistindo para a obtenção dos resultados esperados a médio/longo prazo.

Que condições colocam para gostarmos de nós próprios quando tomamos uma decisão polémica ou impopular? Sou, e quero continuar a ser, o meu melhor amigo?

HÁBITO EMOCIONAL

A autoestima terá de ser assumida como eixo central da nossa vida. A autoestima como hábito emocional terá de ser uma prioridade. O fascínio e a superação serão oportunidades para o desenvolvimento da autoestima.

Autoestima e micro-hábitos

A autoestima tem dois componentes: o sentimento de competência pessoal e o sentimento de valor pessoal. Ou seja, a autoestima é a soma da autoconfiança com o autorrespeito. Reflete a nossa capacidade de entendermos e dominarmos os problemas e desafios da vida. É a chave para o sucesso ou para o fracasso e para nos entendermos a nós mesmos e aos outros.

Quando a autoestima é elevada, a pessoa sente-se confiantemente adequada à vida, isto é, competente e merecedora. Quando a autoestima é baixa a pessoa sente-se inadequada à vida e errada como pessoa. Quando é média a pessoa flutua entre sentir-se adequada ou inadequada, certa ou errada como pessoa e manifesta essa inconsistência no comportamento, reforçando a incerteza.

A autoestima terá de ser desenvolvida como hábito, isto é, como um padrão comporta-mental. O desenvolvimento da auto-estima pressupõe a eliminação de alguns comportamentos considerados desajustados, o aumento da frequência de outros comportamentos considerados fundamentais e a criação de novos comportamentos.

Dividir o comportamento a desenvolver em micro-hábitos parece ser uma estratégia funcional: escolher um comportamento que se deseje adotar; dividi-lo em micro-hábitos, com uma taxa de esforço reduzida; incorporá-lo de forma sistemática no quotidiano; promover o seu crescimento/frequência/ intensidade.

Começar pequeno pode ser o que falta para que um hábito seja implementado na nossa vida. Reduzir o esforço para fazer, sistematicamente, sem desistir.

Fascínio e superação

O fascínio é a capacidade de atrair, encantar ou admirar alguém ou algo. Pode estar relacionado com a beleza, com o talento, com a inteligência, com a personalidade ou com qualquer outra qualidade que desperte o interesse ou a curiosidade de alguém.

O fascínio e a autossuperação estão relacionados entre si, sobretudo, quando alguém se sente inspirado ou motivado por uma pessoa ou numa situação que considere ser fascinante.

A identificação e partilha de características com pessoas significativas, a identificação de oportunidades de mudança desencadeadas pelos momentos de frustração, a tomada de decisões com efeitos surpreendentes e não expectáveis permitem o desenvolvimento da consciência do próprio valor e do auto fascínio.

Reconheça que a imperfeição pode conduzir a descobertas perfeitamente encantadoras de si mesmo(a)

Refinamento da autoestima

O refinamento da auto-estima é um processo de melhoria da avaliação que uma pessoa faz de si mesma, que pode ser positiva ou negativa, e que depende da aceitação pessoal. Trata-se de criar alternativas de vida, de viver experiências com maior intensidade, de exercer a liberdade de mudar de atitude quando não se consegue alterar os condicionalismo impostos para pudermos encontrar um sentido para a vida.

Faça da compreensão de si mesmo e das suas circunstâncias uma companheira eterna.

O Psicoterapeuta, enquanto profissional do acolher e do cuidar, funciona como um diapasão capaz de sintonizar as modulações afetivas da pessoa. Este estilo clínico inspira a criação de um terreno sagrado para a procura de si mesmo.

Em síntese, pudemos afirmar que o desenvolvimento da auto-estima consistirá, fundamentalmente, em aprender a ressignificar as experiências de vida e a aceitarmo-nos na totalidade. O nível de aceitação engloba uma gestão emocional adequada e o desenvolvimento de micro-hábitos emocionais geradores de experiências de fascínio e de superação pessoal.

Professor Doutor JÚLIO EMÍLIO PEREIRA DE SOUSA
Psicólogo

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